É difícil fazer o bem?
Será que os outros merecem nossos esforços?

Recentemente, no cartório, uma companheira quis alertar os colegas sobre a importância do Auxílio Funeral. Suas intenções eram de proteger as famílias enlutadas, mas usou em sua fala um argumento, no mínimo, antiquado:

“Temos duas certezas na vida: que nascemos de uma mulher e de que vamos morrer.”

Contra-argumentei citando o caso do médico brasileiro Theo Brandon, que pariu seu próprio filho. A temperatura da discussão elevou-se um pouco, e alguns preconceitos evidenciaram-se.
No dia seguinte, de ânimos serenados, retomei a conversa, falando mais profundamente sobre as chagas e cicatrizes físicas e emocionais que a sociedade falocêntrica impõe sobre as pessoas transgêneras.

Percebi que mesmo pessoas eruditas e viajadas estão presas a uma formatação rígida, apedrejando e queimando inocentes, como relatado pela policial militar baiana Kim Villanelle, apenas para seguir uma manada de imbecis.

Depois de ouvir sobre essas histórias e dialogarmos sobre intersexualidade e transgeneridade, ela ainda insistiu que não concordava. Ao que lhe respondi que sua concordância não importava, mas sim o seu respeito. Afinal, respeitar a identidade sexual alheia não nos trás nenhum prejuízo, mas desrespeitá-las provoca chagas imerecidas.

Sim, é difícil fazer o bem. E, sim, nossos esforços são merecidos e, mais que isso, válidos e transformadores.